domingo, 3 de janeiro de 2010

Avatar

Antes de discorrer sobre o filme propriamente dito, devo dizer que, com o maçarico aceso sobre a cidade do Rio, é no mínimo crueldade – para não dizer irresponsabilidade, desorganização e mais uma penca de substantivos negativos – um cinema manter a exibição de um filme numa sala lotada com ar condicionado “deficiente”. Depois reclamam que os cinemas de rua estão acabando ou que Copacabana só tem uma opção de cinema. Acorda, Roxy!

Agora os bonecos azuis. Bom, crítica básica de filme normalmente envolve dizer que determinado ator ou atriz deu um show, arrebentou, merece todos os prêmios etc. Avatar não é esse tipo de produção. Sam, Sigourney, Michelle, Giovani etc cumprem seus papéis, mas o filme não tem seu principal pilar nas atuações.

O roteiro também não é empolgante. Segue aquela linha básica de qualquer arrasa-quarteirão de tragédia. Aliás, a estrutura do roteiro é idêntica à de Titanic, não por acaso do mesmo James Cameron. Começamos com 1 hora e meia de pura embromação ou de “chick flick”: pessoas entrando no navio ou pessoas chegando a Pandora; Jack e Rose, ou Sam e Mulherzinha Azul, se encontram, num primeiro momento ela o odeia, mas aos poucos eles convivem e se conhecem melhor, o amor vai nascendo e eles acabam ficando juntos – seja no meio da floresta encantada ou dentro de um carro da área de cargas; conhecemos os personagens cujas mortes vamos lamentar, bem como aqueles que precisamos odiar (Billy Zane / Sargento) e por aí vai.

*** SPOILERS – Não Ultrapasse ***

A partir daqui, os comentários revelam partes importantes do filme. Se ainda não viu, veja e volte depois (a menos que não se importe em saber o que acontece de antemão).

Quando o ritmo do filme começa a incomodar, vem a parte que supostamente agradará mais aos homens: o cinema-tragédia. O navio bate no iceberg; digo, os terráqueos vêm com os caminhões usados nas minas da Vale e destroem um pouquinho da floresta para pegar o mineral supervalioso (a jóia da Rose?).

Aí vem toda a destruição, com suas cenas inimagináveis: a Casa da Árvore é derrubada (o navio se parte), os Navis são dizimados (os passageiros se afogam), lamentamos a morte daqueles personagens lá do começo como a Sigourney Weaver e a Michelle Rodriguez (Fabrizio e Victor Weber) e claro, depois de muita explosão e lágrimas, o bem vence o mal. Ou você achou que seria diferente e ousado? Não, o roteiro é básico. E de tão semelhante a Titanic, não é que o personagem principal também morre no final? Ok, Jack Dawson não tinha uma Árvore das Almas para se converter definitivamente em seu avatar, mas podemos atribuir isso aos 200 anos que separam as duas histórias.

Então você pergunta se eu odiei o filme? Não. Lógico que não. Se roteiro e atuações não são empolgantes, resta a produção para salvar tudo e nisso o James Cameron é o “king of the world”. Cada imagem, cada explosão, cada vôo dos pássaros gigantescos, cada salto sobre a rede de troncos interligados, cada som ensurdecedor, cada anêmona de Eywa... tudo isso te transporta para um universo único e mágico em cenas muito bem executadas e minuciosamente trabalhadas. Claro que o efeito 3D é fundamental para aumentar o realismo e colocar o espectador praticamente dentro de Pandora. Quem ficou com dor de cabeça por causa dos óculos que me perdoe, mas em 2D este seria apenas mais um filme de ação.

O grande mérito de Avatar para mim foi sua mensagem de preservação da natureza. Similar aos filmes de tragédias ambientais – “O Dia Depois de Amanhã” ou “2012” – a mensagem que fica é que, seja na Terra ou em Pandora, os “homens humanos” destroem impiedosamente a natureza, com suas escavadeiras, espaçonaves e caminhões gigantescos sem o menor respeito às culturas locais, aos nativos e às árvores milenares, objetivando apenas a riqueza – através de um mineral valiosíssimo. É decepcionante o futuro imaginado em Avatar para o século 22: o homem não aprendeu nada com o esgotamento da Terra e partiu para causar a mesma destruição em Pandora – “o mundo de vocês não tem mais verde”. É possível traçar um paralelo com a chegada dos europeus às Américas, ou de uma empresa estrangeira a um país mais pobre, ou do homem branco aos redutos indígenas, ou mesmo – talvez force a barra – dos EUA ao Afeganistão, ou do BOPE à favela...

A idéia é clara: o homem em geral não busca entender a cultura local, interagir, conversar e respeitar. É mais fácil usar a força, conquistar pela superioridade do poderio bélico, sem medir as consequências. Esquece-se de que a natureza cobra o preço – seja através de ondas gigantes, explosões vulcânicas magnânimas, icebergs ou rinocerontes e pássaros desproporcionais. Mais cedo ou mais tarde.

3 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pela crítica, Tanto!! Ficou ótima!!

Leo Lodi disse...

Pô, ainda não vi, mas, uma amiga que é atriz de teatro adorou em todos os sentidos, mas, sua crítica vai além do "gostei, não gostei", claro, mas, onde ficam as questões relacionadas ao que mais se espera do filme: os efeitos especiais? Dizem que "Avatar" é revolucionário neste sentido.

Debby disse...

Foi a pior postagem sua que eu já li! Tá parecendo aqueles críticos chatos do "O Bonequinho Viu". Se eu lesse aquilo antes de ver qualquer filme, eu não veria nenhum. Se eu lesse sua crítica antes de ver O Avatar (eu juro que comecei a ler quando você me disse da postagem lá no Mister Pizza... mas desisti porque eu não estava entendendo nada!), provavelmente não veria o filme. Mas não posso negar que está muito bem escrita, e que a analogia feita entre os personagens separados pelos 200 anos arrebentou. Pobre Jack, que não teve o seu Avatar.