sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

We all need love lá no meu apê

Eu poderia comentar fora de ordem, mas aí eu não teria TOC e não seria eu. Quinta passada teve show do Double You no Canecão. Início meio bizarro. Um show de dance anos 90, tipicamente ploc e um Canecão lotado de... mesas. Não, não havia pista. Eram mesas em todo o salão. Estranho, muito estranho.

A primeira música foi uma nova (?!) chamada Everybody Get Up. E eu respondi prontamente: me levantei, assim como as pessoas que estavam em minha mesa. Mas foi só. Ninguém mais atendeu ao pedido e terminamos um pouco envergonhados de sermos os únicos três seres de pé na casa. Acho que teve uma pequena briga - houve uma de minhas amigas discutindo com alguém atrás, que nos mandou sentar. É, surreal assim.

Com um português fluente, o Double You - que na verdade é um cara só - anunciou que estava muito feliz de voltar ao Rio (aquela farofa de sempre) e que tocaria músicas antigas. Mandou direto Please Don't Go e agora sim, finalmente!, as pessoas se levantaram. Não todas. De novo, eu e minha mesa levantamos primeiro, ao som do primeiro acorde. Em seguida, algumas mesas atrás de nós e mais alguns tímidos que pouco a pouco se puseram de pé pra gritar "Baby, I love you so". Mas era muito no começo... é como se o Skank abrisse um show com Vou Deixar ou a Madonna abrisse com Like A Virgin. A gente meio que espera ser torturado até o fim do show para escutar os grandes hits, faz parte do jogo. Então ninguém tava muito empolgado, exceto eu e minha mesa, que não nos sentamos mais. E também as pessoas que estavam atrás da gente, que simplesmente desistiram - ou que enxergaram em nós bravos bandeirantes desbravadores e nos tomaram como exemplo. Exceto uma mesa, provavelmente aquela das pessoas que reclamaram uma música antes.

A terceira foi uma outra nova, chamada Lose Control e sabe o que aconteceu nesta música? Faltou luz! Na parte final da música, POW! Um estampido, um silêncio no palco, luzes de emergência acesas e toda a banda com aquela cara de "peidaram aí". Foi rápido, foi só um pique, 10 segundos depois tudo estava em ordem, mas... meu Deus... chega, né? O show pode ficar normal a partir de agora?

Preces atendidas, pelo menos temporariamente. A partir da quarta música a coisa entrou nos eixos. Heart Of Glass levantou os últimos resistentes e começou um desfile de hits (já considerados) antigos. What Did You Do With My Love, She's Beautiful, Looking At My Girl, Who's Fooling Who, We All Need Love... Quanta nostalgia boa! Lá no meio teve um Open Your Eyes perdido, é aquela mesma do Snow Patrol, que tocou um tempão na propaganda do E.R., tocou num episódio de Grey's Anatomy, ganhou versão dançante e repete o refrão "tell me that you'll ooooooopen your eyes" incansavalmente - não se engane pela crítica, adoro a música e cantei a plenos pulmões. Enfim, tudo caminhou muito bem até o fim com Run To Me.

Ou quase. Um capítulo a parte nesta noite surreal foram os dançarinos. Um grupo de brasileiros desengonçados no maior estilo Piores Clipes do Mundo faziam as coreografias mais toscamente executadas da história do showbusiness mundial. A única garota parecia a Avril Lavigne, mas ao dançar parecia uma marionete comandada por alguém sem coordenação motora. É, tosco desse jeito mesmo. Tão ruim, mas tão ruim, que ficou engraçado e se tornou a sensação do show.

Aí terminou. Aplausos, aquele fingimento padrão e veio o bis.

Pausa para um longo suspiro.

É, o bis. O Double You resolveu agradecer ao empreendedor que possibilitou o retorno deles ao Rio.
Chamou o cara ao palco.
O cara subiu.

Pausa de novo para outro longo suspiro.

Era o Latino.

E o que poderia ser a redenção de Please Don't Go no bis se tornou a parceria mais inusitada que um ser humano seria capaz de imaginar. Double You e Latino cantando juntos Please Don't Go no Canecão em janeiro de 2009. É como dizer que um dia Erasure e Kelly Key vão cantar uma versão de A Little Respect no programa da Luciana Gimenez.

E você acha que o Latino desceu assim logo depois de dar a palhinha? O bizarrômetro chegou a índices incalculáveis e explodiu. Ele tomou a guitarra de um cara e disse "é, eu não sei tocar guitarra..."
Eu ainda tentei contê-lo: "Então não tenta!", eu gritei.
Eu tenho certeza absoluta que ele ouviu! Mas talvez como forma de me punir por eu ter me levantado na primeira música, ele tocou a guitarra como se tocasse um violão e atacou com a sequência C F Am G, enquanto cantava o singelo refrão Hoje é festa lá no meu apê...

Eu cheguei a me beliscar. Não podia ser verdade.

Quer o lado bom? Antes de descer, o Latino disse que vai continuar trazendo grupos que marcaram época para o Brasil. A próxima investida dele é no Information Society. Ou seja, pode contar com baby, me leva entre Think e Running daqui a alguns meses.

Latino desceu. Double You reprisou Run To Me e finalizou a noite dançante de hits da minha adolescência. O saldo final foi positivo, mas eu devo confessar que a última vez que eu vi algo tão bizarro foi quando o Serguei apareceu no palco do Forró do Pirata em Fortaleza.

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